30 de dezembro de 2011

Canção da Roda Hidráulica

1
Os poemas épicos dão notícia
dos grandes deste mundo:
sobem como astros,
como astros caem.
O efeito é consolador e é bom sabê-lo.
Mas para nós, que temos de alimentá-los,
sempre foi, desgraçadamente, mais ou menos igual.


Sobem e caem, mas à custa de quem?

A roda continua rodando,
Aquele que hoje está em cima não ficará para sempre em cima.
Mas para a água que está em baixo, desgraçadamente,
isso apenas significa que terá de continuar a puxar a roda.

2
Tivemos muitos senhores
tivemos hienas e tigres,
tivemos águias e  porcos.
E a todos eles alimentámos.

Melhores ou piores, é o mesmo:
a bota que nos pisa é sempre uma bota.
Já terão compreendido o que quero dizer:
não mudar de senhores, mas sim não ter nenhum.

A roda continua rodando,
Aquele que hoje está em cima não ficará para sempre em cima.
Mas para a água que está em baixo, desgraçadamente, isso apenas significa
que terá de continuar a puxar a roda.

3
Investem uns contra os outros brutalmente,
Guerreiam a ver quem fica com o roubo.
Os demais, para eles, são uns tipos avarentos
e consideram-se a si próprios boa gente.
Continuamente vemo-los enfurecendo-se
e a combaterem-se entre si. Somente
quando já não queremos mais alimentá-los
se põem prontamente de acordo.

A roda já não continua rodando,
e acaba-se a divertida farsa
quando a água, por fim, com a sua força livre,
Se entrega a trabalhar para ela própria.

Bertolt Brecht, 1932.


Traduzido do castelhano por Oceano Falésia