2 de novembro de 2017

O tambor da muda

Amanhã começa a 21ª Mostra de Teatro de Almada. Parece-me um óptimo pretexto para reactivar o Teresa Sindicato, parado desde 2013.

Com a ajuda de um digitalizador de negativos meio manhoso (que, ainda assim, consegue recuperar alguma da granulada personalidade da clássica película preto e branco "Kodak Tmax" 3200 asa ) irei publicar, nas próximas duas semanas, algumas das imagens que fiz para as Mostras de 2000 e 2001.

As duas primeiras são da peça "Mãe coragem e seus filhos" de Bertolt Brecht, numa encenação de Joaquim Benite para a Companhia de Teatro de Almada.

Na primeira imagem a actriz Maria Frade no papel de Kattrin, a filha muda. Durante a noite as tropas imperiais preparam-se para atacar à traição a cidade de Halle. Nos arrabaldes os camponeses apercebem-se disso mesmo, do triste destino daqueles que estão na cidade incluindo a Mãe Coragem. Perante a atrocidade iminente os camponeses limitam-se a rezar, esperando desta forma fazer com que alguma superior força acorde os habitantes de Halle.

Kattrin, a filha muda, rompe com o misticismo da situação, pára de rezar e sobe ao telhado com um tambor no qual bate estrondosamente com todas as suas forças.
É abatida a tiro pelas tropas invasoras mas graças ao seu gesto os habitantes da cidade acordam e defendem-se.

Na segunda imagem vemos a Mãe Coragem (de Teresa Gafeira), já de manhã, com a sua filha muda ao colo, cantando-lhe uma música de embalar, não querendo acreditar que ela está morta, que apenas está dormindo.

"Descobri Mãe Coragem nas reportagens televisivas da Bósnia, da Croácia, do Kosovo, com as suas filas de refugiados famintos, de soldados atípicos, com os seus relatos de perseguições, mas também com os seus tráficos de armas, o mercado negro e o contrabando das pequenas quadrilhas", disse à Lusa Joaquim Benite nas vésperas da estreia no final do ano de 2000.